Espalhados Espelhando

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segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Segunda feira silvioafonso em: PORNOGRAFIA DE DRUMMOND.




Amor – pois que é palavra essencial comece esta canção e
toda a envolva. Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva.
Quem ousará dizer que ele é só alma? Quem não sente no
corpo a alma expandir-se até desabrochar em puro grito de
orgasmo, num instante de infinito?
O corpo noutro corpo entrelaçado, fundido, dissolvido, volta
à origem dos seres, que Platão viu completados:é um, perfeito
em dois; são dois em um.
Integração na cama ou já no cosmo? Onde termina o quarto e
chega aos astros? Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?
Ao delicioso toque do clitóris,já tudo se transforma, num
relâmpago. Em pequenino ponto desse corpo,a fonte, o fogo, o
mel se concentraram.
Vai a penetração rompendo nuvens e devassando sóis tão
fulgurantes que nunca a vista humana os suportara,mas, varado
de luz, o coito segue.
E prossegue e se espraia de tal sorte que, além de nós, além da
própria vida,como ativa abstração que se faz carne,a idéia de
gozar está gozando.
E num sofrer de gozo entre palavras,menos que isto, sons,
arquejos, ais,um só espasmo em nós atinge o clímax:é quando
o amor morre de amor, divino.
Quantas vezes morremos um no outro, no úmido subterrâneo
da vagina,nessa morte mais suave do que o sono:a pausa dos
sentidos, satisfeita.
Então a paz se instaura. A paz dos deuses,estendidos na cama,
qual estátuas vestidas de suor, agradecendo o que a um deus
acrescenta o amor terrestre.

[Carlos Drummond de Andrade]




3 comentários:

Daniel Costa disse...

Silvio, bom dia, admiro muito a poesia de Carlos Drummond de Andrade, mas em jeito pornográfico é a primeira vez que leio. Valeu bem está doseada o quanto baste e a prosa poética é atraente.

silvioafonso disse...

Daniel, querido. Drummond
não só foi aos lugares em que
o conhecemos, como se deixou
ficar por tempos entre o desejo
e a vontade de pecar.
Entre alguns bons versos inspirados
nestas horas, eis o que mais me toca.
" Mimosa boca errante
Mimosa boca errante à superfície até
achar o ponto em que te apraz colher
o fruto em fogo que não será comido
mas fruído até se lhe esgotar o sumo
cálido e ele deixar-te, ou o deixares,
flácido, mas rorejando a baba de
delícias que fruto e boca se permitem,
dádiva.
Boca mimosa e sábia, impaciente
de sugar e clausurar inteiro, em ti,
o talo rígido mas varado de gozo ao
confinar-se no limitado espaço que
ofereces a seu volume e jato
apaixonados como podes tornar-te,
assim aberta, recurvo céu infindo e
sepultura?
Mimosa boca e santa, que devagar
vais desfolhando a líquida espuma
do prazer em rito mudo, lenta-lambente-
lambilusamente ligada à forma ereta
qual se fossem a boca o próprio fruto,
e o fruto a boca, oh chega, chega,
chega de beber-me, de matar-me, e,
na morte, de viver-me.
Já sei a eternidade: é puro orgasmo.
Sem que eu pedisse, fizeste-me a
graça.
Sem que eu pedisse, fizeste-me a
graça de magnificar meu membro.
Sem que eu esperasse, ficaste de
joelhos em posição devota. O que
passou não é passado morto. Para
sempre e um dia o pênis recolhe a
piedade osculante de tua boca.
Hoje não estás nem sei onde estarás,
na total impossibilidade de gesto ou
comunicação. Não te vejo não te
escuto não te aperto mas tua boca
está presente, adorando.
Adorando.
Nunca pensei ter entre as coxas um
deus.


Um abraço, Daniel.







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Reflexos Espelhando Espalhando Amig disse...

Adorei essa conversa.
Bjins
Catiaho Alc.

JUSTIFICATIVA PARA TODOS OS LEITORES AMIGOS

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