Segunda feira com silvioafonso em: ABENÇOADAS MÃOS

Ele estava molhado e sujo de lama, seus pés sangravam dentro e fora da bota de borracha e no seu rosto a máscara da desolação. Foi desta maneira que ele foi visto no centro da cidade de Nova Friburgo controlando o trânsito que não tinha para onde ir num rio de água e lama. Que ele era um voluntário, disso ninguém teve dúvidas. Que ele largara a sua família e a segurança do seu lar para ajudar os que mais precisavam, poucos ficaram sabendo, porque o que importava para ele era ser solidário na hora da dor. Foi assim que ele mostrou ao mundo o sentido da palavra solidariedade. Ele não se importou se teria ou não o que comer, se encontraria um lugar para dormir, o que importava de verdade era a sua presença, a força que poderia dar ao mutirão e com a defesa civil e as forças armadas formar um exército de incansáveis anjos da salvação.
Quantas pessoas, como este jovem cidadão, estavam nesta luta em busca dos desaparecidos e dos muitos que perderam seus entes queridos debaixo de uma montanha de terra, de escombros de suas próprias casas? Essa gente não busca fazer parte da estatística que endeusa os heróis, busca, sim, auxiliar aqueles que viram os seus sonhos e até as suas vidas serem levadas pelas águas que encobriram a cidade, as casas e as vidas. Muitos tiveram ferimentos no corpo e na alma. Cicatriz cuja ferida não sara, não cura passe o tempo que passar.
Eu vi advogado, farmacêutico, gente rica e gente pobre sujos de lama ajudando a retirar corpos de sob paredes e telhados para chorar os mortos que encontravam e os que vivos da morte eram resgatados. Toda a cidade, o povo, o estado, o País e o mundo choram essa dor que não cessa, mas aos poucos por ela vamos morrendo.
silvioafonso

6 comentários:
Acho que estas situações podem despertar aquele 'melhor' do ser humano que fica lá dentro, esperando uma chance para sair e suplantar a frieza.
silvioafonso,
gosto muito de ler e reler seus escritos
e constatar como continuam atuais.
Bjins e linda semana pra nós.
Catiaho Alc.
entre sonhos e delírios
Um belo relato de que o ser humano pode se revelar diante uma tragédia.
Vi o Zeca Pagodinho saindo do seu conforto para ajudar os flagelados de Xerem.
Bem como vi pessoas simples misturadas nas lamas pelo Brasil na nobre missão de resgatar pessoas diante dos temporais, que se repetem ano a ano. Parabéns ao Silvio.
Uma abraço Catia e boa partilha e abertura do espaço aos nobres escritores.
Uma linda semana a voce.
O ser humano é muito esquisito, Ana.
Os nossos governantes, por exemplo,
mandam verbas como ajuda a países
necessitados e no entanto morrem à
mingua o sonho dos brasileirinhos
que não têm perspectivas quanto a e-
ducação, a saúde e o trabalho.
Hoje mesmo eu vi a presidente lam-
bendo as feridas de Fidel Castro,
como lambe os pés de Putin e
beijava às mãos do falecido Chaves,
Mas isso é uma outra história.
Um beijo Aninha e desculpe o
desabafo.
.
Você conhece a minha cidade,
moça e sabe que nada foi feito
aqui depois das chuvas de 2o11.
Hoje, véspera das eleições o
vice governador vem, na condição
de mandatário do estado oferecer
3 estádios de futebol, talvez para
que o povo pergunte a ele; para quê,
Pezão, a gente quer estádio se
nem futebol o nosso time tem para
competir, e se tivesse, e um jogador
se machucasse, aonde o senhor o
levaria para um pronto atendimento?
No hospital da cidade que marca os
exames da próstata dos velhinhos
e não os chama para serem aten-
didos pelo urologista, assim como
as cirurgias da tireóide marcadas
há mais de seis meses e não são
feitas, é?
Um beijo Cátia e obrigado por me
permitir espernear na sua página.
.
.
Toninho, eu vi e conversei com algumas
pessoas que deixaram a tranquilidade
de suas casas e viajaram à Friburgo como
viajariam a qualquer outra cidade na in-
tenção única de ajudar aqueles que pre-
cisam. Tem médico disponibilizando va-
gas em seu consultório para atender os
que não tem como pagar, assim como
tem outros profissionais, diversos, que
doam parte do seu tempo no auxílio à
quem precisa, mas também tem, é claro,
os que roubam de quem não tem, tirando
dele a dignidade, o amor próprio e a espe-
rança. Não é, senhores fraudadores do
INSS, do FGTS e de outras siglas, mais?
Toninho, um abraço. Cátia, um beijo.
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