HERÓIS SEM NOME
Desde criança meu sonho era andar naqueles
aviões que praticamente arrancavam as
telhas da nossa casa quando
morávamos no morro de um bairro pobre do Rio.
Todos os dias à tarde eu corria para fora só para vir
os soldados que, de dois em dois,
saltavam dos vagões voadores.
Com as mãos na cabeça eu sonhava ser tão corajoso
como aquelas pessoas.
Aos 15 anos tentei alistar-me no exército,
mas meu pai não permitiu e só aos 17 vesti a farda
que eu tanto queria entretanto nada falei
quanto a categoria ou meu pai me proibiria,
como antes, de eu arriscar
a porcaria de vida que eu tinha.
E como ele mandava nos sonhos dele
queria dar palpite nos meus.
Por ele eu seria lutador de nome o que ele,
como bóxer, jamais conseguiu.
Papai era um desportista, porém, jamais,
ganhou qualquer coisa com o esporte.
No quartel tinha outro paraquedista que lutava como
meu pai, a diferença é que este vivia provocando
os outros até passar a mão na minha bunda
e eu meter a mão na cara dele.
Para não ficar mal diante de todos o covarde
me empurrou porta afora.
O problema é que estávamos a dois mil pés de altura.
Voávamos sobre Duque de Caxias e coincidentemente
sobre Gramacho onde no dia seguinte faríamos
os saltos programados.
Foi sorte ter acionado o paraquedas
tão logo fui empurrado ou não estaria
contando essa história.
Dois dias depois procurei Torres,
na Baiuca para lhe dar um abraço.
— Obrigado, Torres.
Fiquei sabendo que você foi
o responsável pela dobra do meu paraquedas.
Não fosse a precisão com que faz seu trabalho
e eu não o estaria abraçando nesse momento.
— Com os olhos molhados Torres me disse
que até aquele momento nenhum soldado
comentou seu trabalho com tamanho carinho.
Torres talvez não se lembrasse que paraquedista
com menos de 100 saltos, como ele, não é ouvido
por quem tem mais de mil.
Quantas vezes fui a Baiuca conversar
com os caras, quantas?
Um montão e se fui não foi para ver em que mãos
estavam a minha segurança, a minha integridade
física ou a minha vida, mas para agradecer-lhes
por fazer pelos outros, o que fazem para si próprios.
O tempo passou e levou com ele a minha infância
e a juventude, menos a vontade de voar não levou
e se me contassem que um bandeirante ou um
Cessna que seja passou assustando
os meninos talvez eu
lembrasse do meu pai e chorasse.
Chorasse por ele ser um sonhador, mas,
por segurança, não me deixava dormir…
silvioafonso
Com Canção
Medo de avião
Belchior
Com Versos
Há um desejo em mim,
que hoje não cessa. Vem junto com um grito,
que não tem força pra sair.
Desejo escrever versos,
que apenas descrevam o belo.
Grito que faça reacender
o lúdico que temos
dentro de cada um de nós.
Mas acontece que meus versos
são somente reflexos. Tons de uma alma em constante
renovação ou seria revolução?
Apenas versos,
parte do caleidoscópio que sou.Cores não mais primitivas,
porém já decompostas
no arco íris
CatiahoAlc./Reflexo d'Alma entre delírios e delírios
060720100559