
Vai fazer um ano que eu não beijo na boca. Faz tanto tempo que até me esqueço da última vez que eu fiz aquilo que começa com um beijo. Quando beijo na boca eu me entrego. Não vou dizer que eu perco o juízo, mas talvez o perdesse porque ao voltar eu me sinto mais pura, leve e com pele de causar inveja à criança de colo. O meu humor e o brilho dos meus olhos demonstram que não era à toa que eu beijava tanto antes da crise. Hoje eu só ando emburrada, cansada de ficar na janela esperando a vacina chegar e o pior é que não chega. O tempo vem e passa, mas não leva o vírus que tira de mim o que venho aqui reclamar. Sinto vergonha de não saber me tocar, até porque, eu sempre tive quem o fizesse. Eu sinto um misto de vergonha e de medo, não sei. A droga é quando vou tomar banho ou vestir as roupas de baixo. Aí não tem como evitar. É como se um curto circuito desligasse o sistema e eu me perdesse no infinito da imaginação. Já pensou uma pessoa fogosa, como eu, ficar um ano sem beijar na boca, sem me sentir flutuando no espaço? Um ano sem ter com quem me deitar de conchinha e que disse que eu sou gostosa, cheirosa e objeto dos seus desejos. Um ano eu me encontro rezando, não para ter o que eu quero, mas para ter o que todos precisamos para vencer esse mal. Muitos não acreditam na letalidade do vírus, por isso tocam suas vidas irresponsáveis da maneira que vêm tocando. Ontem minha prima, solteira, me ligou e no meio da conversa me peguei perguntando como ela estava se virando sem namorando. Ela disse que namorar ela não estava namorando. Não queria compromisso com ninguém a não ser uma vez ou outra quando tivesse tempo e paciência para aturar aqueles a quem ela dispensaria depois de gozar. – Não era isso que fariam comigo se eu não o fizesse primeiro? Então – disse ela mexendo com os meus hormônios. Que inveja eu senti daquela mulher. Eu não tenho tanta coragem e mesmo sem poder me tocar e morrendo de vontade de beijar na boca, na testa ou sei lá mais onde eu continuo na janela segurando o queixo e me sentindo úmida a cada vez que alguém passa dizendo que fez o que minha prima me confidenciou que continua fazendo.
9 comentários:
Mais um texto meu que você, minha doce e querida
amiga, descobre onde eu não fazia a menor ideia de
ter publicado.
Um beijo e muito obrigado.
Te he leído con cuidado y me gusta, te deseo suerte en el nuevo trabajo. Un abrazo
Quer dizer que há mais de um anos que........ nada de nada? lol
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Abraço
Muito bem. Adorei a publicação!! :))
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Sonhos guardados, matizados...
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Beijo, e uma feliz tarde! :)
Publica hoje uma das minhas baladas e vídeo favoritos.
Sonhemos sempre!
Bjs, bfds
O texto do Sílvio é brilhante. Gostei de ler.
Obrigado pela partilha.
Bom fim de semana, querida amiga Catiaho.
Beijo.
Mas, o que é que ela tem,
parece tão triste à janela
à espera do amor que não vem
depressa, beijar os lábios dela!
Será por causa disso,
ou estarei enganado
gostei de ouvir o vídeo
tudo aqui é engraçado!
Beijos e bom fim de semana. Continuação de bom ano 2021.
Excelente texto!
E o vídeo é delicioso!
Um bom domingo. Beijos!
Concordo. O Sílvio Afonso se consegue pôr em palavras no lugar dos personagens. E sempre com emoção. E sempre provocador. Beijo aos dois.
Cuidem-se bem.
Uma boa semana.
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