Con Texto 100 ROUNDS - Com Canção - Com Versos Solução - Com Frase

100 ROUNDS

100 ROUNDS

                                    

 Hoje faz mais um ano que Laerte nos deixou.

Eu o conhecia há mais de 30 anos. 

Sempre que nos encontrávamos Laerte se punha

 na posição de ataque e defesa como se fora 

boxer diante do adversário. 

Pois, Laerte era assim, sempre que me via por perto 

simulava golpear no meu queixo. 

Ele pequenino em relação ao meu tamanho e sem noção 

nenhuma do boxe fingia me “socar” a cabeça enquanto eu,

 grandão e conhecedor da matéria nem me desviar do 

golpe eu desviava porque ele, o mesmo Laerte, que fingia 

querer me derrubar, abria os braços, me agarrava pelo

 pescoço e sorrindo como um menino estava mais para 

um filho que para o amigo que era.

 E era assim em todos os encontros.

Laerte me contava histórias, ria das próprias piadas e 

eu sorria com ele falando aquelas coisas.

Naquela época Laerte já tinha 80 anos sonhando

 chegar aos 100. 

Ele me disse muitas vezes que chegaria e o pior é que

 eu acreditava.

 Não tinha um dia que Laerte não saísse pedalando sua bicicleta

 por entre os carros das ruas movimentadas da zona sul e, 

se Deus o tivesse ouvido como ele escutava o que Deus

 lhe dizia, ele teria chegado aonde queria.

Uma vez, estávamos há dois anos sem nos virmos, 

quando alguém me disse que ele fora internado. 

O mal era o mesmo que acometia boa parte dos 

irmãos de sua mãe e uns sobrinhos. 

Eu não saberia definir o mal que os acometia, mas vou me atrever 

chamar de loucura. Laerte fora internado com esse mal e para 

preservar sua própria integridade e da família acharam por bem 

interná-lo como outros os parentes haviam sido e por infelicidade 

morreram logo depois. E Laerte também não sobreviveu. 

No dia que eu soube que ele vivia falando em mim eu 

decidi visitá-lo. 

Escolhi o domingo e fui à Vila Isabel, onde algumas 

enfermeiras da UERJ me avisaram que tivesse cuidado. 

— Seu Laerte é agressivo

 — dizia a chefe da enfermagem

 — mantenha-se longe — concluiu. 

Quando cheguei a enfermaria ouvi gritos. 

Era Laerte enfiando a porrada 

num outro doente. — Para com isso, Laerte!

 Larga esse cara e vem cá me dar um abraço

 — gritei alto para que ele me ouvisse. 

Laerte, segurando o sujeito pela gola do uniforme, olhou para mim, 

largou o “adversário” caído no chão e correu em minha direção. 

A 3 passos na minha frente ele parou. 

Curvou o tronco para frente, armou-se na posição de ataque

 e defesa, como um boxer, e partiu para mim. 

Aí eu pensei: "tô ferrado!" Mesmo, assim, eu não me mexi. 

Laerte avançou. Parou a meio metro de mim. Balançou o tronco 

de um lado para o outro com as mãos fechadas junto ao queixo

 soltou um golpe no meu fígado. Todos sabiam que aquele golpe 

me derrubaria até porque há muito eu já não lutava. 

Mas o golpe não me acertou. A mão fechada passou 

pela minha cintura e ele, sorrindo como vivia sorrindo 

nas minhas lembranças, me agarrou num abraço que

 até hoje sinto as costelas doerem. 

Foi um dos melhores abraços que o amigo já tinha me dado. 

Manteve a cabeça junto ao meu peito e assim 

permanecemos sorrindo um para o outro. 

Todos, até os internos nos aplaudiam. 

Não fosse a porrada que Laerte meteu no colega de quarto

 e eu juraria que o internaram por qualquer motivo, 

menos por loucura.

Ah! Laerte, Laerte. Por que fez isso com a gente?

Eu esperava tudo de você, menos que me

 contasse essa história: A história de um louco, 

louco por tanta coisa. 

Louco pelos filhos, pelos amigos e pelos parentes, 

mas só esse amigo adorava suas loucuras, 

não essa que acabou por matá-lo. 

Você, que tal qual um louco adentrou ao Ring saltando

 por sobre as cordas sai de lá carregado, nocauteado 

para a nossa tristeza. 

Dos seus amigos eu era um dos que você mais gostava

 e isso me enchia de orgulho. 

Quantas vezes você quis fazer por mim coisas que 

eu não precisava. Quantas ajudas você quis me 

dar e eu tinha de aceitar mesmo não precisando?

Esteja você, Laerte, onde estiver,

 que eu o saberei com os punhos junto ao queixo 

fazendo o pêndulo para um lado 

e para o outro sorrindo para mim. 

                                                silvioafonso

                                      

Com Canção

Com Versos

Solução

 A solução para seguir adiante

é em si mesmo confiar

Manter seu amor próprio

e mesmo decepcionados

nada nos deixar parar

Seja vida ou seja morte

nada há de nos deter

e mesmo em meio as tristezas

o sol sempre voltará a brilhar

A solução é sempre

em nós mesmos acreditar

            CatiahoAlc./AAR123/2023

310820221057

Estação Outono de 2023

Fase da Lua Crescente

 

Com Frase