Obs: Esse texto foi escrito há 20 dias passados, o dia da publicação foi programado aleatoriamente.
Essa sou eu pensando
em quanto tempo já perdi na vida por conta de
acreditar as pessoas se
importarem umas com as outras. Se não se importassem, era pelo menos um forma
de alimentar minha esperança das coisas não serem assim tão ruins ou tão sem
sentido.
As pessoas trocam de
ideia, de ação ou de reação de um momento pro outro e tem a descapacidade de
acordar no dia seguinte como se nada tivesse acontecido. É como se eles fossem
totalmente aceitáveis e gente como eu fosse obrigada a achar tudo muito normal.
Na verdade, na verdade é como se a gente fosse folha em branco, folha de papel
higiênico ou água mesmo de privada. Porque não faz a menor diferença.
Fui uma criança sem
direitos e sem imagem. Nada do que eu fizesse ou sentisse fazia diferença. Nunca
ninguém me perguntou o que eu achava disso ou daquilo.
No tempo da escola, a
antiga quinta série, passava no portão da minha colega de sala Isa, era
passagem minha do ponto do ônibus até a escola (nos conhecemos dentro da sala
de aula). Eu ia pra escola de ônibus, pois vinha de um bairro mais distante, e
ela era bem do bairro da escola. Um dia ela me chamou pra entrar, eu neguei. Um
outro dia ela pediu pra eu esperar do lado de dentro porque ela e a família estavam
almoçando. Eu entrei e esperei. Assim aconteceu por uns dias: na hora eu descia
do ônibus lá estava ela com aquele sorriso bonito, sua pele branca me
esperando. Mais a frente, a mãe dela me agradeceu por esperar a filha dela e
quase me obrigou a entrar, entrei. Eles almoçavam: mãe, duas filhas e um filho
menor. Assim foi por um tempo, um dia sem esperar meu prato foi posto a mesa e
me sentei e almocei com eles. Vieram as férias de final de ano, o recesso e
como ambas passamos de serie no ano seguinte voltamos estudar na mesma sala. Voltei
a aguardá-la para irmos juntas para aula. Como no início aguardei do lado de
fora uns dias, depois mais uma vez Isa me convidou para entrar, mas dessa vez
eram eles: pai, mãe, irmãs, irmão. Não demorou muito e novamente a mãe dela me
agradeceu como no ano anterior e pôs meu prato á mesa, uma duas e na terceira
vez o pai dela até então sempre calado, perguntou meu nome, eu disse e ele
seguiu: -Catia, somos gratos por sua amizade por Isa e por estar sempre com
ela. Mas vou pedir que não venha mais aqui, que não a espere mais para ir a
escola, pois eu sou ex presidiário e não será de bom tom você frequentar nossa
casa. As pessoas são cruéis. Me perdoe, mas para seu bem de hoje em diante você
não é mais bem vinda aqui.
Eu lívida não sabia como reagir.
A Isa com os olhos cheios de lágrimas pôs as mãos na face
soluçando, os demais ficaram quietos e a mãe resignada pôs a mão em meu ombro e
me conduziu até onde estava minha mochila, depois me levou até a porta e ao
portão, lá me deu um forte abraço, e disse: -Será melhor assim. Perdão
novamente e Adeus.
Eu simplesmente fui embora e nunca falei publicamente sobre o
assunto até hoje; naquela época eu era uma menina de 10 anos, completaria 11 no
fim do ano em dezembro e isso ainda era setembro... Agora eu descia do ônibus
praticamente no portão da casa dela, atravessava a rua e subia a ladeira até a
Escola Estadual Presidente Bernardes. Vi de longe a Isa até o final daquele ano,
éramos ainda as duas melhores alunas da turma. Eu tinha verdadeira amizade por
aquela menina e ela por mim, éramos as duas muito boas em Português e História,
eu a moreninha de cabelos castanhos compridos e ela a branquinha de cabelos
pretos, meio curtos e de franja.
Confesso que a comida
da casa dela era infinitamente melhor do que a da minha casa havia como, por
exemplo, copos de vidro, talheres e louça (confesso serem coisas que até hoje
eu prezo ter). Já meus pais na época eram muito sem condições e punham à mesa o
possível e nossos pratos eram aquelas latas de goiabada sem a tampa, e onde
bebíamos água eu não me lembro de verdade.
A casa da Isa?
Lá tinha sala, quartos, cozinha copa e banheiro completo.
Já lá em casa era um espaço pequeno repartido pelos móveis. O quarto
dos meus pais era separado por um cobertor grande preso ao armário, e o bebê (a
ultima criança das seis nascidas) dormia com o casal na cama. Ao lado, depois
do armário que fazia parece dormiam as três meninas em uma cama maior (eu era
uma delas, duas irmãs dormiam para baixo e eu sozinha para cima). No espaço
chamado sala, porque tinha uma televisão preto e branco, em uma poltrona maior
dormiam os dois meninos. Era tudo tão apertado, tão mínimo, mas para mim não
fazia a menor diferença, pois eu tinha minhas tarefas ao cuidar dos meus cinco
irmãos pelas manhãs, mas a tarde eu tinha a Escola! Lá eu tinha espaço, lá eu
era alguém, lá me chamavam pelo nome e eu me sobressaia por ser estudiosa! E por
um tempo até tive até a Isa como amiga.
Penso hoje refletindo
que minha casa humilde tinha algo a mais que na casa da Isa. Não sei o que era,
pois meus pais tinham muitos atritos todas as noites. Eles se ofendiam, nós
filhos recebíamos as rebarbas, fossem em desprezo ou em pancadas mesmo. Eu
nunca recebi nenhum amigo em casa, pois eu morava em um bairro longe da escola,
mas quando eu tinha a chance de passar com e turma no ônibus eu fazia questão
de apontar sem nenhuma vergonha: -Estão vendo aquela casa pequena de madeira,
aquela em acima da casa grande de lage, lá em cima depois da escada de barro?
Pois eu moro lá com meu pai, minha mãe e meus irmãos e irmãs.
Amigos da Blogsfera,
a despeito da pobreza e da violência imposta pela vida sofrida eu nunca fui
infeliz naquele recanto dos 9 aos 14 anos. Mas eu sempre penso na Isa e na
família dela, pois eles se preocuparam comigo, por eu sofrer algo por
frequentar a casa deles? Naquela época eles se preocupavam com o maldito
preconceito?
Não sei...
Será?
Pra mim desde aquele
tempo o preconceito não fazia como não faz parte da minha vida.
Mas na verdade o que me afetou bem foi ser preterida, posta de
lado, posta fora da vida daquela gente que eu tanto achava ser cativante. Eu
senti a perda da presença de Isa, creio ter sido aí que comecei a ter o dedo
chamado podre para escolher seres que seguem comigo (não me refiro a família de
sangue ou aos amigosmaischegadosqueirmãos). Todavia a constatação é real de ser raro eu não ser/me sentir preterida/deixada de lado ainda hoje.
Entretanto deixei de
sofrer com esses abandonos quando entendi ser de um gênero de Seres que jamais
terão alguém ao lado para sempre ou melhor ao longo da vida, exceto os ligados a mim pelo amor Eros. Digo no plural por ter vivido 55 anos e crer ainda não saber do meu amanhã, aliás ninguém sabe, ou sabe? Em fim seguindo: Os demais sempre passarão pela minha vida, irão e
virão, e eu? Sempre estarei de braços abertos não esperando incondicionalmente,
mas sim olhando a vida seguir seu curso.
Pois meu destino é ser quem Sou a
minha própria Custa.
Acho bom; pois entender isso me fez parar de criar expectativas
inúteis.
CatiahoAlc./Reflexod’Alma
Boa tarde!
ResponderExcluirSempre maravilhosas e com perseverança! Amei!
Beijo e um excelente dia.
Boa tarde. Uma publicação brilhante :))
ResponderExcluirHoje:- "O meu ilusório, fluindo"
Bjos
Votos de óptima Quinta-Feira
Tudo muito lindo.
ResponderExcluirBjs e parabéns pelo livro Catiaho.
Carmen Lúcia.
Dando conhecimento, prometendo voltar mais tarde.
ResponderExcluir-
Hoje abrimos – duas amigas - o nosso blogue onde postaremos fotos originais tiradas por nós, poesias, prosas, mensagens e sentires do coração.
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https://olharesedeslumbres.blogspot.pt/
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Obrigada
Lindíssima partilha querida amiga ,muitos beijinhos felicidades
ResponderExcluirOi Cátia! Você sempre com seus belos escritos. Bastante reflexivo e rico em sabedoria. Grande beijo.
ResponderExcluirQuerer viver com uma máscara é sempre um erro.
ResponderExcluirE algo muito complicado de concretizar.
Bjs, bfds
Gosto dos olhares!
ResponderExcluirA escrita para ler e refletir sempre interessante!bj
Bom dia. Passando e elogiando mais uma publicação fantástica. Fotos deliciosas. Temas profundos. Gostei muito.
ResponderExcluir.
* Amar-te na periferia do Contratempo *
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Cumprimentos Poéticos
Custei entender que mãe não é
ResponderExcluirsó a mulher que nos põe no mundo,
mas também a que nos ensina a com-
preendê-lo. Pena que a gente, depois
de achar que aprendeu tudo, vooa
para longe do ninho e esquece de
quem nos deu, de graça, o brevê
de piloto. Mãe deve ser isso, ou
seria aquela que chora quando os
olhos da gente umedecem e sofre
quando a dor pensa doer na gente e
sorri com as bobagens que a gente
faz? Pois seja ela quem você achar
que ela é, mas, por favor, não se
esqueça de agradecê-la por tudo que
ela fez por você, e de pedir perdão
pelo que você deixou de fazer pelos
dois.
Feliz 8 de maio. Feliz dia das
mães.
silvioafonso
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